Lifestyle

A educação dos filhos no olhar psicoterapêutico sistêmico

Muitos pais se perguntam:

“O que fizemos de errado na educação de nossos filhos?”

Neste artigo quero partilhar com você este tema à luz da visão terapêutica sistêmica de Bert Hellinger.

Para quem não conhece, a metodologia psicoterapêutica que passou por grandes nomes da psicologia familiar, Análise Transacional, Psicodrama e Gestalt terapia, vinda do nome em alemão “Systemische Aufstellung”, e em português traduzida para Constelação Sistêmica, o termo foi usado pela primeira vez pelo psicólogo também alemão Alfred Adler (1870 – 1937). Com influência também filosófica, fenomenológica existencial, não empirista de filósofos como Kant, F. Hegel. Esta metodologia tem o método das “esculturas familiares”, onde na terapia individual ou em grupo, um membro que representa um familiar do cliente, sem ao menos nunca tê-lo conhecido, passa a sentir exatamente coisas que o familiar sente. Fenômeno este que foi cientificamente provado pela teoria da evolução dos “campos morfogenéticos”, formulado pelo biólogo britânico Rupert Sheldrake, onde nós temos uma memória coletiva, a qual cada membro da espécie recorre e contribui para a evolução da espécie.

 

Hellinger tem trazido evolução à metodologia, ao descobrir três leis que atuam sobre os relacionamentos humanos, o equilíbrio, pertencimento e a ordem. Essas leis devem ser observadas para que um relacionamento tenha sucesso. Para um bom relacionamento entre pais e filhos é preciso olhar para outras coisas além do que simplesmente o amor deles por seus filhos. A abordagem sistêmica nos ajuda perceber e identificar em que momento o fluxo do amor foi interrompido e as leis que atuam sobre esses relacionamentos não foram observadas. Na maioria das vezes a postura com a qual nos relacionamos com nossos filhos é um reflexo da nossa postura em relação ao nossos pais.

 

Na Constelação aprendemos que fazemos parte de um sistema familiar, que é composto por nossos antepassados e nossos descendentes, além de pessoas ligadas à família. Conforme Bert Hellinger ensina, nosso sistema familiar vive sob as três leis do amor: a lei do pertencimento, a lei da ordem e a lei do equilíbrio

 

A primeira nos ensina do valor de pertencer àquela família e saber que somos parte do todo, não um “eu” sozinho, muito aplicável não só com pais casados ou separados, mas com todos os familiares. A segunda nos traz o valor da hierarquia, ou seja, devemos nosso respeito a quem está no sistema familiar antes de nós, ou seja, os pais vem primeiro que os filhos, assim existe um degrau de diferença entre ambos. Quando os filhos crescem e tem seus filhos, terão os avós, os pais e os netos e a princípio a hierarquia está formada, porém, muitas vezes um filho, por amor, assumi sentimentos que são de um dos pais. Por exemplo, a mãe perdeu uma irmã quando criança e a criança “captura” inconscientemente a tristeza desta mãe e por amor, assumi essa dor desta mãe. É como se o filho dizesse à sua mãe: “Mãe, eu fico triste em seu lugar, eu olho por você, assim você pode ficar melhor”. Isto muda a ordem e acaba trazendo perturbações na relação de pais e filhos. A terceira lei nos fala da troca, a disposição que devemos ter em dar e receber desse sistema, fortalecendo quem somos e a família a qual pertencemos. Nós como filhos recebemos a vida de nossos pais e precisamos fazer algo muito bom com a vida recebida, para o fluxo prosseguir. Alguns filhos, muito comuns entre os mais velhos, acabam interferindo no relacionamento dos pais e isso é um exemplo de interromper o fluxo.

 

O trabalho do constelador é ajudar a trazer à luz essas dinâmicas, esses movimentos entre os pais e seus filhos, da falta de uma pessoa no núcleo familiar, a restaurar as leis sistêmicas na família, apoiando uma nova postura no núcleo familiar.

As leis do amor não são opcionais, como algo que desejamos ou não seguir, elas são parte de nós, enquanto somos parte do sistema. Não vivenciá-las é o que pode gerar tantos conflitos na nossa vida adulta e é por isso que as leis do amor, quando aplicadas na educação dos filhos, podem ser tão transformadoras. O ideal é que os pais entendam essas leis e as apliquem com seus filhos no seu dia-a-dia

 

Se uma criança cresce sob os valores das leis do amor, ela cresce aprendendo o valor de pertencer à sua família e isso ajuda muito no seu desenvolvimento emocional. É claro que uma criança e até mesmo um adolescente pode não ter a maturidade para compreender a Constelação Familiar como um todo, por isso quando falamos sobre educação no olhar sistêmico, falamos sobre aplicar seus valores no dia a dia. 

 

Trazer as leis do amor para a educação do seu filho não é dizer que elas existem e obrigá-lo a seguir, mas é se comprometer a ensinar o valor por trás de cada uma. Por exemplo, mesmo que seu filho não saiba que existe a lei do pertencimento, ele pode ser ensinado a aceitar a família que tem, mesmo com os conflitos que possam existir. O mesmo vale quando ele é ensinado a respeitar os parentes que vieram antes dele na história da família e a entender que na relação com seus familiares, ele deve estar aberto a dar e receber, vivendo em equilíbrio. Na prática, educar através da Constelação Familiar é adotar essa filosofia que vai guiar suas decisões enquanto mãe/pai. 

 

É no dia a dia, no seu relacionamento e nos valores que você ensina que a Constelação já pode fazer parte da vida dele. No entanto, pode ter certeza que mesmo ensinando tudo isso e passando o melhor de você, ele terá que lidar com seus próprios conflitos na vida adulta, mas isso é o ser humano. Não é sua falha, não é sua falta de amor, seja o melhor que você consegue hoje e com isso, ele conseguirá lidar com o que tiver que lidar amanhã. Nós não devemos educar os filhos para que eles vivem uma fantasia sem problemas, mas para que eles tenham inteligência emocional para tomar a melhor decisão diante dos problemas que, inevitavelmente, irão enfrentar. 

Leia também